Toronto em 2040 |
Mateus B. Andrade era um homem comum, um compositor brasileiro excêntrico e desconhecido que encontrava refúgio em suas músicas introspectivas. Suas composições falavam de desejos, frustrações e sonhos. Embora sua arte fosse repleta de beleza subjetiva, havia algo incomum em suas músicas. Relatos começaram a surgir: pessoas afirmavam ter vivido situações idênticas às descritas em suas canções.
No início, pareciam coincidências inofensivas. Mas, quando Mateus compôs uma música sobre uma versão idealizada de si mesmo como um compositor mundialmente famoso, algo extraordinário aconteceu. Eventos ao seu redor começaram a se alinhar com sua narrativa, mudando de forma sutil, mas perceptível.
Foi então que a Agência Brasileira de Inteligência (ABIN) iniciou uma investigação. Mateus foi levado para interrogatórios e monitorado em segredo enquanto continuava compondo. A descoberta foi estarrecedora: o Multiverso existia, e a mente humana era capaz de influenciá-lo. Pesquisadores descobriram que, sempre que alguém criava algo – uma ideia, uma história ou até mesmo uma música – havia uma probabilidade mínima de que essa criação se manifestasse em uma realidade paralela.
Mateus, no entanto, era uma anomalia probabilística. De maneira excepcionalmente rara, ele afetava sua própria realidade. Isso não fazia dele uma figura essencialmente poderosa, mas sua sorte probabilística atraiu a atenção mundial. Suas criações apresentavam inconsistências óbvias e conflitantes com o mundo estabelecido, algo que governos e cientistas logo identificaram como uma limitação imposta pelo “inconsciente coletivo” da humanidade. Mas, em universos paralelos, essas limitações desapareciam.
Mateus foi apenas o primeiro. Logo, governos começaram a experimentar com escritores, cineastas, desenvolvedores de jogos e outros artistas cujas criações poderiam impactar o Multiverso. Embora esses artistas tivessem poder quase onipotente em universos alternativos, as mudanças nos universos estabelecidos eram limitadas pelas crenças e memórias coletivas da humanidade.
Bases científicas secretas surgiram ao redor do mundo, e tecnologias avançadas, como os Neuroespelhos, permitiam mapear pensamentos criativos e identificar suas ramificações multiversais. Enquanto isso, espionagem, sabotagens e disputas por "WorldBuilders" entre potências intensificaram a competição.
Em 2028, Mateus uniu forças com Desmond Finkelstein, um bilionário americano excêntrico e obcecado pelo potencial do Multiverso. Juntos, desenvolveram o Projeto Finkelstein, uma tentativa de usar as habilidades de WorldBuilders para criar uma utopia em realidades alternativas. No entanto, o projeto foi encerrado abruptamente, e todos os arquivos foram vendidos para a corporação NetLife pouco antes de Mateus desaparecer misteriosamente. Muitos acreditam que ele foi vítima de sabotagem, usado em experimentos ou até mesmo capturado e apagado de sua própria linha temporal.
O mundo mergulhou em guerra aberta, e a destruição foi imensa. As potências globais, cada vez mais desesperadas, recorreram ao uso de armas nucleares. O hemisfério norte tornou-se uma paisagem devastada, com cidades inteiras reduzidas a cinzas radioativas.
O uso indiscriminado de armas nucleares causou o Inverno Nuclear, um período de escuridão e frio extremo que durou duas décadas. As temperaturas globais despencaram, culturas agrícolas colapsaram e bilhões de vidas foram perdidas. O mundo entrou em uma nova era de caos e reconstrução.
Hoje, o legado de Mateus B. Andrade persiste de forma distorcida. Ele foi um homem comum, que por acaso moldou sua própria realidade e, sem querer, desencadeou uma série de eventos que levaram à destruição global. Seu nome é lembrado como uma faísca em um mundo que ainda luta para entender as consequências de seus atos e das ambições humanas desenfreadas.
Valex City, construída para sobreviver ao caos, agora abriga as ruínas desse sonho distorcido, onde o Multiverso se tornou uma mercadoria, e o futuro permanece incerto.
O Impacto Climático da Guerra Nuclear: A Queda e Recuperação das Temperaturas Globais
Quando a Guerra Nuclear começou em 2030, o uso massivo de armas nucleares devastou não apenas as cidades e populações, mas também o equilíbrio climático da Terra. As explosões liberaram enormes quantidades de poeira, fuligem e aerossóis na atmosfera, bloqueando a luz solar e causando o fenômeno conhecido como Inverno Nuclear.
- Redução drástica da luz solar: A entrada de luz solar caiu cerca de 60%, causando uma queda imediata na temperatura global.
- Colapso agrícola: Culturas agrícolas em todo o mundo falharam devido à falta de luz e às temperaturas extremas, desencadeando fome em larga escala.
- Alteração dos padrões climáticos: O aquecimento da superfície terrestre diminuiu, enfraquecendo a circulação atmosférica e interrompendo padrões de vento e chuva.
- Precipitação ácida: Além do frio extremo, a fuligem combinada com compostos de nitrogênio e enxofre liberados nas explosões provocou chuvas ácidas em escala global, afetando florestas e ecossistemas aquáticos.
- Extinção em massa: O colapso das cadeias alimentares resultou em extinções em massa, com muitas espécies incapazes de se adaptar às condições severas.
- Impacto nos oceanos: Os oceanos, que funcionam como reguladores térmicos, absorveram uma quantidade significativa de calor perdido, desacelerando ainda mais a recuperação da temperatura.
- Desertificação e degradação de solos: Regiões agrícolas enfrentaram décadas de recuperação, com solos degradados pela erosão e pela falta de nutrientes devido à ausência de vegetação.
- Estações curtas e imprevisíveis: Verões são mais frescos e invernos mais longos e rigorosos.
- Florestas boreais em expansão: Com temperaturas mais frias, biomas boreais substituíram florestas temperadas em muitas regiões.
- Ressurgimento agrícola limitado: Tecnologias como fazendas verticais e cultivos hidropônicos substituíram parcialmente a agricultura convencional, mas a produção ainda é insuficiente para sustentar populações globais maiores.
Perdas Populacionais Globais
As consequências humanas da Guerra Nuclear foram devastadoras, com centenas de milhões de mortes diretamente ligadas às explosões, fome, caos social e doenças causadas pela radiação.
- Estados Unidos: Cerca de 290 milhões de mortos devido aos bombardeios nucleares, fome, colapso social e câncer.
- Rússia: 95 milhões de mortos, com as principais cidades destruídas e a infraestrutura rural incapaz de sustentar a sobrevivência.
- China: 800 milhões de mortos, um desastre sem precedentes devido à combinação de ataques nucleares e fome em massa.
- Brasil: 100 milhões de mortos, principalmente causados pelo frio extremo e pela escassez de alimentos.
- Argentina: 30 milhões de mortos, devido à destruição de recursos agrícolas e o colapso da infraestrutura social.
- Índia: 902 milhões de mortos, o maior número registrado, causado por fomes extremas, caos social e a rápida degradação de suas cidades superpopulosas.
- Austrália: Cerca de 40% da população pereceu, principalmente devido à fome causada pela interrupção das importações alimentares e colapsos nos sistemas agrícolas locais.
Para muitos outros países, os dados são escassos ou indisponíveis, mas é amplamente reconhecido que o número total de mortes globais ultrapassou 4 bilhões durante a primeira década após a guerra.
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