segunda-feira, 9 de dezembro de 2024

Capítulo 8 - O Brasil no meio do Caos

O Brasil Pós-2030: Entre Instabilidade, Golpe e Colapso

Bonito? Sim. Mortal, também.


O cenário político e social do Brasil após o ano de 2030 foi marcado por uma combinação de instabilidade política, estratégias falhas, e a pressão de uma nova guerra global. O país, já enfrentando uma longa sequência de crises políticas desde 2016, passou por um período instável, culminando em eventos que mudariam o curso de sua história.


O Contexto Político: Da Instabilidade à Ditadura

Desde o início de 2016, o Brasil atravessou uma série de crises políticas que se intensificaram em 2018 e 2022. O cenário era de desgaste social, polarização política e uma série de tentativas de reformas que frequentemente esbarravam em corrupção e resistência. O cenário democrático, embora renovado em algumas eleições, perdeu seu fôlego com a contínua divisão entre as facções políticas e o aumento da tensão no cenário internacional.

Após as eleições de 2022, o país passou por um breve período de relativa estabilidade democrática, com o retorno do Partido dos Trabalhadores (PT) ao poder. No entanto, o cenário global em ebulição, especialmente devido à guerra multiversal e o clima geopolítico instável, criou um ambiente propício para que o governo fosse enfraquecido por pressões internas e externas.

Em 2027, o ambiente político se tornou insustentável. O governo, enfraquecido pela pressão econômica e pela crescente tensão internacional, foi vítima de um golpe de Estado, liderado por militares e aliados da burguesia nacional, que estavam ansiosos por uma mudança no comando. Assim, o Brasil foi transformado em uma nova ditadura burgueso-militar, liderada pelo general Carlos Moraes von Humberg.


O Governo von Humberg: Neutralidade e Inércia

Sob o comando do General Carlos Moraes von Humberg, o Brasil declarou-se oficialmente neutro no conflito internacional. A ideia era evitar se envolver diretamente nos eventos globais e preparar-se para o futuro conturbado que se aproximava. No entanto, a nova ditadura enfrentou desafios significativos: corrupção endêmica, ineficiência administrativa e as velhas dinâmicas das elites brasileiras que sabotaram qualquer tentativa de implementar mudanças estruturais.

O governo von Humberg tinha como metas principais a preparação para o inverno nuclear e seus efeitos, mas quase nenhum progresso foi alcançado devido ao acúmulo de burocracia, falta de financiamento e resistência política.


Metas do Governo e Seus Fracassos

O regime militar estabeleceu um conjunto de objetivos estratégicos para garantir que o país pudesse enfrentar os rigores do inverno nuclear e a recessão global, mas a maioria dessas metas fracassou devido à corrupção, incompetência e pressão dos interesses econômicos.

  1. Reduzir a dependência de fertilizantes importados de 85% para 30%:

    • O governo tentou implementar um programa para aumentar a produção nacional de fertilizantes e reduzir a dependência do exterior. Apesar das boas intenções, o país conseguiu produzir apenas 22% dos fertilizantes necessários, falhando miseravelmente em seu objetivo.
  2. Criar um banco de sementes de clima temperado:

    • O projeto incluiu sementes resistentes ao frio intenso, como trigo, mirtilo e frutas cultiváveis mesmo sob as condições de neve constante. Este programa foi concluído com sucesso, garantindo uma reserva estratégica de sementes adaptadas às novas condições climáticas.
  3. Reduzir a dependência de óleo diesel importado:

    • O governo tinha como meta eliminar sua dependência de 20% de diesel importado e alcançar autossuficiência. No entanto, nenhum progresso foi alcançado, especialmente com os esforços sendo limitados pela falta de investimento e infraestrutura.
  4. Privatizar a Petrobras para aumentar eficiência:

    • A privatização da Petrobras era vista como uma solução para os problemas energéticos. Contudo, o processo foi desastroso. A empresa foi repassada a capital privado sem preparo adequado, e rapidamente a nova estatal falhou. Surgiu então a PetroBrArg, uma entidade estatal binacional entre o Brasil e a Argentina, que se tornou ainda mais ineficiente, deficitária e envolvida em esquemas de corrupção.
  5. Expropriação de grandes propriedades agrícolas para alimentar a população:

    • Uma das políticas mais controversas pretendia expropriar propriedades agrícolas para garantir que a população tivesse acesso aos recursos necessários. No entanto, a resistência do agronegócio e as dinâmicas políticas impediram a execução do plano. A solução foi, em vez disso, a compra total das safras por meio de emissão monetária e investimento do governo. Isso gerou um cenário de desperdício, ineficiência e hiperinflação. O resultado foi a morte de cerca de 60 milhões de brasileiros por inanição, com outros 40 milhões sofrendo devido ao frio e à falta de recursos essenciais.
  6. Utilização e construção de termoelétricas para compensar a perda de energia hidrelétrica:

    • O sistema elétrico brasileiro, que dependia 90% de energia hidrelétrica, entrou em colapso com o congelamento de represas e a interrupção do fluxo de água nos principais rios. Nos três anos que antecederam o início da Guerra, apenas metade das termoelétricas foram efetivamente construídas, deixando o sistema energético brasileiro altamente vulnerável e instável.

O cenário de crise e instabilidade que dominava o Brasil pós-2030 culminou em um dos episódios mais críticos da nova era: o colapso do Real. O excesso de emissão monetária, destinado à compra de safras agrícolas e ao controle da fome, foi um movimento desesperado do governo de Carlos Moraes von Humberg para manter o país minimamente funcional. No entanto, essa decisão teve consequências devastadoras, que colocaram o país em um cenário de colapso financeiro e político.


O Colapso do Real: A Inflação Descontrolada e a Crise Agrícola

O governo von Humberg, pressionado pela fome e pela necessidade de manter a estabilidade no cenário pós-inverno nuclear, adotou uma estratégia simples, mas perigosa: compra de safras agrícolas a fundo perdido por meio de emissão monetária. A ideia era assegurar o controle da produção agrícola, evitando que os produtores preferissem perder suas colheitas ao invés de alimentar uma população faminta.

No entanto, essa decisão tinha consequências imediatas e catastróficas:

  1. Desperdício generalizado:
    • A produção agrícola foi comprada em excesso, mas o armazenamento era ineficiente. Muitas colheitas ficaram retidas em silos, apodrecendo devido à falta de logística e investimento em infraestrutura.
  2. Hiperinflação:
    • A emissão monetária em larga escala, sem lastro econômico, fez com que o Real perdesse seu valor de maneira exponencial. O preço dos bens essenciais, como alimentos e combustíveis, disparou.
  3. Fome e Miséria:
    • A combinação de inflação e ineficiência resultou em uma escassez generalizada de alimentos. A população mais pobre foi a mais afetada, com milhões de brasileiros morrendo de inanição.

Com esses fatores combinados, o colapso do Real foi inevitável. O poder aquisitivo da população foi severamente reduzido, e o cenário social ficou ainda mais sombrio. O governo, que já enfrentava desafios políticos, perdeu a confiança da população e viu sua base de apoio se esvair.

O Ataque Coordenado: O Brasil e a Argentina contra Valex City

Em meio ao caos interno, o General von Humberg buscou uma maneira de reverter sua imagem e ganhar apoio popular. Ele acreditava que uma ação militar de grande porte poderia consolidar seu controle sobre o governo e, ao mesmo tempo, desviar a atenção dos problemas internos. Inspirado por uma tentativa de expandir a influência regional, ele propôs uma invasão conjunta com a Argentina contra Valex City.

O objetivo era claro: roubar tecnologias avançadas de Valex City, capitalizar sobre seus recursos estratégicos e, de alguma forma, subjugar a ilha artificial. O cenário era simples: as tecnologias de ponta de Valex poderiam oferecer ao Brasil e seus aliados a vantagem que precisavam para se reestruturar após o inverno nuclear e o colapso econômico.

Planejamento da invasão:

O ataque foi planejado em segredo. O Brasil e a Argentina, em meio às suas próprias crises, organizaram uma operação militar conjunta para cruzar as defesas da ilha com força combinada. O plano previa o uso de tropas terrestres e o apoio aéreo para penetrar as defesas da GeneralSecurity Inc. e garantir acesso às instalações-chave de Valex City.

Os primeiros ataques:

Em 2038, o exército combinado brasileiro-argentino lançou uma ofensiva coordenada com ataques aéreos e desembarques em pontos estratégicos da costa de Valex. As tropas de terra avançaram em fragatas com a esperança de dominar posições estratégicas, mas a operação encontrou resistência inesperada.

Valex City, embora afetada pela guerra, possuía defesas tecnológicas avançadas e um sistema militar robusto que impediu o sucesso da invasão. O uso de drones, mísseis de longo alcance e defesas automáticas da GeneralSecurity Inc. mostrou-se muito eficaz para conter o avanço da ofensiva. O resultado foi uma derrota significativa para os invasores, com centenas de militares mortos e operações-chave destruídas.

Valex City conseguiu se manter independente, com seu autêntico poder tecnológico e seu apoio interno sendo determinantes para sua sobrevivência. A tentativa de invasão foi um fracasso retumbante para o Brasil e a Argentina, com consequências políticas e militares profundas.


O Autogolpe e a Deposição de von Humberg

O fracasso da invasão e o colapso econômico interno fizeram com que o governo brasileiro perdesse qualquer suporte restante da população e da elite. O golpe de von Humberg havia se tornado uma armadilha para si mesmo. A perda de credibilidade, combinada com o impacto social da fome, da guerra e da hiperinflação, colocou seu governo em posição vulnerável.

O cenário chegou ao seu limite quando setores das elites brasileiras e instituições militares perceberam que a continuação do governo von Humberg ameaçava a própria sobrevivência do país. Assim, um autogolpe interno foi orquestrado por alianças entre setores militares e políticos, visando substituir von Humberg e estabilizar o cenário brasileiro com uma liderança mais moderada e estratégica.

João Pedro Schimidt-Kapersky assume o poder:

O golpe resultou na deposição do General Carlos Moraes von Humberg em um movimento rápido e cirúrgico. O novo líder foi o General Almirante da Marinha João Pedro Schimidt-Kapersky, um homem com uma postura estratégica e uma visão pragmática de reconstrução. Ele era conhecido por seu foco em cooperação internacional e por sua habilidade em manejar crises econômicas, além de seu perfil menos agressivo em comparação a seu predecessor.

Sob sua liderança, o governo buscou reconstruir a confiança interna, estabilizar a economia e estabelecer uma nova relação com as potências internacionais. Schimidt-Kapersky trouxe esperanças para aqueles que haviam sofrido durante anos sob o regime de von Humberg, implementando reformas administrativas e tentando restaurar a legitimidade do governo perante os brasileiros. 

O Eslusês:

A massiva imigração de russos, ucranianos, bielorussos e chineses durante a segunda metade da década de 20, nas imediações do grande conflito nuclear, produziu alterações profundas na demografia e cultura brasileira. Mais de 20 milhões de russos e 30 milhões de chineses vieram para o Brasil. Os eslavos vieram a partir de 2026 em massa, e os chineses a partir de 2031. Com isso a participação de brancos (de origem eslava) e amarelos (de origem chinesa) na população brasileira cresceu exponencialmente. Os chineses se acumularam aos montes no estado de São Paulo e Rio de Janeiro, ao passo que os russos e bielorussos se amontoaram em Minas Gerais, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Paraná, e extraordinariamente, Espírito Santo.

Mas o crescimento da população branca e asiática não foi a única mudança que isso gerou. Durante os anos do inverno nuclear, alterações profundas também foram percebidas na língua. O português evoluiu numa língua nova, absorvendo palavras eslavas, novos fonemas, e o mais impactante, ele voltou a ser uma língua declinativa de casos gramaticais, aos moldes do latim. Influência das línguas eslavas, que tiveram mais tempo para influenciar o português do que o mandarim. Atualmente o português clássico ainda é falado majoritariamente, cerca de 60% da população o fala, com predomínio de mais de 75% no norte de MG, centro-oeste e nordeste. O eslusês é falado em igual proporção no sudeste (50/50) e é já o idioma predominante no sul do país com 65% da população. Ambos são mutuamente compreensíveis.


Sistema de Casos

Este português futurista poderia ter seis casos, inspirados no russo e adaptados ao português:

  1. Nominativo (sujeito) → "O menino brinca." → menino
  2. Acusativo (objeto direto) → "Eu vejo o menino." → meninóm
  3. Genitivo (posse) → "O brinquedo do menino." → meninoi
  4. Dativo (destinatário) → "Eu dou um brinquedo ao menino." → meninoa (feminino: ä)
  5. Instrumental (meio) → "Eu escrevo com uma caneta." → canetau
  6. Locativo (lugar, sobre/algo) → "Estou na escola." → escolan

Tomemos um substantivo regular como "casa" e vejamos sua transformação:

  • Nominativo: casa
  • Acusativo: casam ("Eu vejo a casa" → Vejo casam.)
  • Genitivo: casai ("A porta da casa" → porta casai.)
  • Dativo: casä (masculino "oa") ("Eu vou à casa" → Vou casä.)
  • Instrumental: casau ("Eu limpo com a casa" → Limpo casau.)
  • Locativo: casan ("Estou na casa" → Estou casan.)
Carro (masculino):
  • Nominativo: carro
  • Acusativo: carrom
  • Genitivo: carroi
  • Dativo: carroa
  • Instrumental: carrou
  • Locativo: carron

Pai Nosso em Eslusês:

Paï nosso que iestásy ceun,
Santificadu seja nomei teu.
Venha nós reinoi teu,
Seja feita vontadei tua,
Assim terran como ceun.
Pãoi nosso de cada dia nos daia hoje.
Perdoai ofensasy nossasy,
Assim como nós perdoamos quem nos ofendeu.
Ie não nos deixeis cair tentaçãan,
Mas livrai-nos malai.
Amém.

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